Somos aquilo que quisermos ser. Pelo menos online. CEO’s, a rtistas, artesãos, empreendedores e empresários, mais ou menos
sustentáveis, revolucionários e criativos. Afinal de contas, parece ser tão fácil criar
uma marca para o nosso negócio.
Não trago nenhuma novidade ao partilhar o avanço sónico da digitalização das
marcas. Sabemos que, em apenas dois anos, avançámos mais de 20 e que esta foi
a onda de inovação mais curta dos últimos tempos. Mas a que custo? Qual o
tempo de vida destas marcas que nos surgem no digital como que pipocas numa
feira popular ensacadas à disposição do consumidor?
Nos dias de hoje é rápido lançar uma nova marca. E ainda bem. Mas, do que é que estaremos a abdicar sob o desejo e o impulso de criar uma página na hora para o nosso negócio? Acredito (até porque vivo delas) que a criação de novas marcas ou até o reposicionamento das já instaladas no mercado é um processo sensível e único.
Compreendo (e apoio) a necessidade de agarramos as oportunidades de negócio
que vão surgindo sobre este efeito pop’up das marcas. No entanto, estas
oportunidades não devem ser sinónimo de fazer de qualquer maneira.
Dependemos de tantas variáveis que é praticamente insano pensar que um
caminho de sucesso seja feito sem pelo menos um bom diagnóstico ao mercado
e uma estratégia bem definida (e não incluo aqui os planos de negócio, de
comunicação e outros estudos absolutamente imprescindíveis ao lançamento
de um negócio com viabilidade). Por exemplo, como será pensada a experiência
de cliente? As questões logísticas, o atendimento digital, o packaging, a
segurança nas plataformas de venda online e as dinâmicas de fidelização?
Estarão todas estas questões asseguradas?
Saber e conhecer (com certeza) o nosso público, os seus comportamentos de
consumo, necessidades e referências, mune-nos de informações valiosas e
essenciais para a definição ou redefinição da nossa estratégia competitiva. Saber
para onde queremos ir, para quem queremos comunicar e a que nova
necessidade respondemos, é tão importante que ainda me choca as muitas
dezenas de páginas que me aparecem todos os dias nos feeds sociais.
E não desvalorizemos a imagem. Aquele favor que pedimos ao nosso amigo ou ao
amigo do nosso amigo (não menosprezando todos os fantásticos criativos que,
por amor, amizade ou jeito vão fazendo “só uma imagem para as redes sociais”)
sem lhe atribuirmos a devida responsabilidade de criar uma primeira boa
impressão. Impactante, distintiva e memorável. Criar a identidade de uma marca
é pensar muito além da pequena imagem de perfil. É pensar em propósito, em
essência e história que se conta para além do digital.
É por todos estes motivos que ainda nos emocionamos e entusiasmamos com os
anúncios, vídeos e músicas das marcas que, sem se apressarem, nos conquistam,
fidelizam e nos conseguem contar uma história.
Quem me conhece sabe do meu fascínio e gosto por pipocas. Aquele pequeno
snack preparado com fulgor, sem alma e sem demasiado cuidado, açucarado e
crocante o suficiente para nos entreter durante um tempo. Mas, quando o
assunto são as marcas, prefiro pensá-las como um bom prato tradicional
português, feito com tempo, sabedoria, alma, tempero e com a pitada certa de
amor, capaz de nos cativar os sentidos e perdurar na nossa memória.
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